Fotos Mário Grisolli
Sinopse:
A partir da realização de uma grande pintura que
retrata uma área delimitada no Centro da cidade do Rio de Janeiro foi realizada
uma residência artística em 2015 em um ateliê temporário na Fabrica Bhering
localizada no Rio.
No período de 60 dias a área da grande pintura
delimitou a realização de derivas pelo local, nas quais foram coletados objetos
e produzidos desenhos e fotos com o intuito de integrar a instalação final que
apresenta o conjunto da pesquisa.
A instalação contrapõe a experiência prévia de contato
com a paisagem via ferramentas tecnológicas disponíveis com a pesquisa poética
que se desdobrou a partir da experiência de habitar a paisagem real por um
período de tempo.
O resultado final não se trata de uma pesquisa
histórica ou documental, mas poética, acerca das formas possíveis de se
perceber a paisagem hoje e de como essa paisagem transforma e estimula uma
produção de arte.
Texto crítico da Mostra
(ao meu amor)
A obra de Alan Fontes apresenta como
característica a pesquisa de aspectos ligados à arquitetura tanto no âmbito
doméstico quanto no urbano. Nesta exposição, Fontes articula esses dois
interesses para investigar poeticamente a região no entorno do CCBB.
A cartografia produz instrumentos de
análise capazes de auxiliar na localização de si ou dos outros em relação ao
espaço. O artista partiu de imagens de satélite, de arquivo e produzidas em
jornadas pela região, todas geradas em tempos distintos, para representar esse
fragmento do Centro do Rio, expandindo de forma experimental a representação
cartográfica e gerando uma obra atravessada não apenas por dados espaciais, mas
também pela dimensão temporal, refletindo, assim, a constante transitoriedade
da estrutura urbana.
Somado a isso, Fontes criou um
ambiente de aparência doméstica composto por objetos encontrados nas ruas dessa
região. A cor cinza com a qual foram revestidos os retira do campo dos objetos
de uso prático e os transforma em um índice da vida privada. A justaposição do
estudo sobre a cidade a partir do céu e dos arquivos com a investigação da
existência cotidiana mais próxima das dores e paixões de quem vive na mesma
região cria um palimpsesto de tempos e versões que dá visualidade para o fato
de toda representação corresponder a uma ficção relacionada aos interesses
ideológicos específicos de seu agente. Ademais, somos lembrados por Alan Fontes
de que é preciso aprender constantemente formas de enxergar e de que tudo que
há no mundo é capaz de produzir sentido para auxiliar a nos localizar no espaço
e no tempo.
Bernardo Mosqueira
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