01 dezembro, 2006

A CASA


As primeiras pinturas da série “A CASA” foram realizados a partir de 2005 e discutem a presença da auto-imagem na arte contemporânea como criadora de memória e identidade, capaz de instaurar resistências e gerar sentidos no contexto das artes visuais. As noções contemporâneas de tempo e espaço, advindas da virtualidade e conseqüentemente da tecnologia, reverberam na concepção do auto-retrato que passa a discutir um repertório de questões artísticas que em muito excedem a representação da face do pintor. O auto-retrato toma para si impasses profundos da arte atual e se coloca como pano de fundo para a discussão de questões como a noção de autoria, a idéia de “morte do autor” e ainda para se falar da inconstância do tempo e do espaço.


Neste contexto, utilizo como viés conceitual para concepção da pesquisa plástica, o conceito de Pós-produção desenvolvido por Nicolas Bourriaud, crítico e curador francês, que se apropria do termo, já utilizado na área da televisão e do vídeo, para interpretar um fenômeno do começo dos anos noventa, quando um número crescente de artistas passam a utilizar obras de arte, formas e outros produtos culturais já disponíveis, em seus processos criativos, abolindo distinções tradicionais como produção e consumo, criação e cópia, ready-made e obra original. Bourriaud percebe uma rede de comunicação, na qual artistas re-programam obras existentes, habitam estilos e formas históricas, fazem uso das imagens e dos meios de comunicação em massa e utilizam a sociedade como repertório de formas.


Portanto, o trabalho A CASA, se constrói como uma investigação pictórica que perscruta os limites da auto-imagem através da construção de uma casa pós-produzida e especula sobre o caráter real e ilusório da pintura. Uma instalação construída a partir da combinação de pinturas que representam interiores de espaços domésticos, com móveis e objetos reais, somando-se ainda com a colagem e apropriação de imagens de obras de arte, sendo estas de outros momentos de minha produção pessoal, assim como obras de outros artistas participantes do meu referencial imagético. Neste sentido, “casa” é a forma escolhida para a representação e construção de um auto-retrato em sentido ampliado, enquanto sujeito e artista, propondo um espaço de consumo e de produção onde o autor se reconhece como um consumidor potencialmente subversivo, que projeta, escolhe, constrói e compra os produtos para sua casa, adaptando-os à sua personalidade e necessidade praticando no espaço simbólico da casa o comunismo da forma.


A pintura em campo expandido e o relacionamento da linguagem pictórica como outras linguagens, colocando em evidência o caráter virtual da pintura através do contraste com um real pobre em verdade também são objetivos da proposta. A pintura no espaço, como espaço. Uma casa fictícia instalada em uma galeria de arte, na qual seria possível adentrar-se nela e refletir sobre questões próprias à linguagem, como a construção da pintura na era da imagem técnica, a dialética entre representação e apresentação, verdade e simulacro.

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